terça-feira, 12 de maio de 2015

A concepção de história em Hegel

Com base na obra “Filosofia da História”, que é senão Lições sobre a Filosofia da história, Hegel demonstra que a história é o campo onde o espírito absoluto se realiza plenamente livre. O autor segue criteriosamente uma metodologia cujo fio condutor é movimento dialético, de modo que o enfoque conceitual é claramente definido; tornando-se assim, a dialética o roteiro imanente do conteúdo do seu trabalho. No método dialético há dois momentos constitutivos: o Formal e o Teleológico. O Formal apresenta a Universalidade, a particularidade e a singularidade; com a universalidade está a pressuposição de que a história é expressa no seu sentido Universal que vai articular o curso histórico da liberdade; na particularidade os indivíduos vão exprimir o seu conteúdo particular, negando a universalidade, mas introduzindo a determinação de que o desenvolvimento histórico não é tão majestoso como se pensa, pelo contrario, é sacrificial e doloroso. 

A História também tem seus horrores. Quanto a Singularidade, restitui o particular ao universal de modo que o universal já não é mais o indivíduo empírico e sim o indivíduo histórico que representará o Espírito do mundo. No aspecto Teleológico o autor afirma que a história tem um sentido, um fim, ou seja, uma finalidade. Segundo ele, a história não está entregue a um destino cego, ou entregue ao acaso, pelo contrário há uma Razão regendo todo seu transcurso. A Razão está presente para decifrar o sentido do desenrolar do curso histórico, sentido esse que ganha caráter de verdade da própria história que nela e por ela é manifesto. O mundo está sob o domínio e o governo da Razão. O autor considerou três maneiras de se pensar a História: História original – esta dá ênfase ao fato sensível da imediatidade dos acontecimentos. Os historiadores faziam uso dos relatórios de outros, como os mitos e canções e eles se identificavam com as obras, pois faziam parte dela. 

Esse tipo de história tem conexão com o presente e era transmitida de maneira plástica, isto é, para a posteridade; o historiador é o elo ou mediador entre o passado e as gerações posteriores. História Refletida (podendo ser considerada em Universal, Crítica, Pragmática e Parcial; também chamada de Especial por considerar a espécie da história como: história da arte, da religião, etc..) História Refletiva Universal – Ela tem como exigência a visão total de um povo. O historiador elabora o material histórico até onde ele pode chegar com o seu espírito. Ele aborta o conteúdo, o significado das ações e acontecimentos se utilizando de um método ao escrever. Assim, ele abandona a pretensão individual e se preocupa em abstrair o sentido dos acontecimentos. Esse tipo de história tem ligação com a História Original. História refletida Pragmática – o passado é tratado como um mundo remoto. Os acontecimentos históricos são diversos, mas a essência e o contexto formam uma única peca.

 O passado é anulado e os acontecimentos se tornam reflexões para o presente de modo a ressaltar o ensino moral obtido pela história, pois essa é a sua finalidade, o que para Hegel esse tipo de história é totalmente inválido, pois as épocas são distintas e o passado não oferece lições para o presente. História Refletida Crítica – esse tipo de história é um julgamento das narrativas e a constatação da sua confiabilidade. O autor mostra uma destreza em extrair algo das obras mais do que os acontecimentos em si, o que para Hegel era o tipo de história tratada pelo historiador alemão, todavia para ele eram os franceses quem melhor elaboravam esse tipo de história.História Refletida Parcial – Ela se utiliza das abstrações, é sucinta ao adotar pontos de vistas universais, estabelece a transição para a história filosófica, ela tem relação com o conjunto histórico de um povo, pois ela trata de sua arte, seu direito, sua religião, filosofia. Esse tipo de história Hegel se identificou muito bem. Finalmente, História Filosófica – ela compreende e reflete os momentos que estão sendo realizados de acordo com a realidade. Esses conteúdos da realidade são esclarecidos e justificados. Ela pode ser definida como a contemplação ponderada da história ou a sua observação refletida. Ela dá suporte para produzir o pensamento sem considerar o que existe na realidade. Ela é livre. Quando ela aborda a história amolda-a ao seu próprio pensamento. Ela contempla a história com a idéia de que a razão governa o mundo e vai discutir as diversas formas históricas de um povo que para Hegel foi o portador da idéia do progresso da liberdade na história. Hegel distinguiu os períodos históricos assim: com os Orientais está o embrião da Liberdade – alguém era livre. Com os Gregos nasce a consciência de liberdade – alguém era livre. Com os Romanos está a representação da universalidade abstrata, e como os Germânicos, sob a influência cristã a idéia de que todos são livres. 

Eis então de a história ser um “Teodicéia”, ela é a justificativa de Deus como providência que age e opera nela. A exposição histórica dos povos através da Filosofia da história, não discute (como Hegel o faz na Filosofia do Direito) a idéia do Estado, ela discute as diversas formas históricas como a Liberdade se desenvolveu. E o esquema bem conhecido é distinguindo em três períodos históricos: o mundo Oriental, o mundo Grego, Romano, e o mundo Germano-cristão. Primeiramente Hegel apresenta a pré-história da Liberdade através da representação religiosa do homem no paraíso. Adão, a quem ele considerou como indivíduo universal, nele a liberdade teve sua representação primitiva ou embrionária. Imagina-se que a natureza tenha assumido no início, perante os olhos humanos o papel de claro espelho da criação divina, revelando-lhe de maneira nítida e transparente verdade divina da liberdade. Quando o autor expõe as o desenvolvimento da Liberdade através dos povos, utiliza-se de uma linguagem metafórica usando as etapas da idade humana como: infância, puberdade, juventude, fase adulta e velhice comparando-as com os períodos do dia: manha, tarde, entardecer e noite. 

A liberdade nasce no Oriente, lá é o começo de tudo; é o momento infantil onde a imaturidade impera; é um estado onde não há consciência. Por ser manhã, alvorecer, o sol causa apenas um momento de contemplação e subordinação interior. Esse é o momento da imediatidade. A História progride para a Ásia Central, sem relação com a fase anterior, apenas com manifestações exteriormente; é o momento da puberdade, que não demonstra mais tranqüilidade como a clama de uma criança. Esse momento é fase de turbulência. Prossegue mais um pouco, é o momento da juventude, é tarde. A representação deste momento de ação exterior onde se busca a maturidade da liberdade está com o mundo Grego. Nele as individualidades se formaram. A moralidade objetiva se imprimiu na individualidade, denotando o livre querer dos indivíduos. Nele também se encontra a união moral e da vontade subjetiva que é o reino da “Bela Liberdade”. Este reino é harmônico, floresce com graça, mas por ser fugidio logo desaparece. Ainda não é moralidade subjetiva é apenas objetiva. Na fase adulta se tem toda ação, força e responsabilidade; é o entardecer; neste momento se constrói com responsabilidade. É a idade viril sendo representada pelo Império Romano, que apresenta o reino da universalidade abstrata, pois o varão não depende do senhor, nem do capricho individual da beleza, mas estar a serviço de um fim universal. Neste momento o Estado está começando a se destacar abstratamente e a se constituir um fim onde também os indivíduos têm a sua participação. É o momento da subjetividade. Há um “sentir-se mal” com o despotismo, o espírito recalcado vai até as mais íntimas profundezas do ser, abandona o mundo sem deuses e busca nele mesmo a conciliação na vida interior, plena e concreta que só nela há substancialidade e não dica unicamente na existência exterior, produzindo-se interiormente entra na conciliação com o espiritual. Agora se faz noite, é o momento da evolução e subordinação. Então se apresenta o mundo Germânico; é o momento da velhice. A velhice natural é fraca, mas a velhice do espírito é perfeita maturidade e força. Neste momento se encontra a união absoluta da consciência, moralidade objetiva e moralidade subjetiva. É o retorno à unidade consigo em seu caráter totalmente desenvolvido como Espírito. Esse período da conciliação é realizado pelo cristianismo na expressão da reforma protestante.

 O Estado não é mais inferior à Igreja, nem lhe é subordinado; a Igreja por sua vez não é estranha ao Estado, porque o espiritual não lhe é desconhecido. Os Orientais souberam apenas que alguém é livre. Os Gregos e Romanos souberam que somente alguns são livres e os Germânicos sob a influência do cristianismo, todos são livres. A Liberdade encontrou seu instrumento para se realizar conceitualmente bem como sua verdade – a História Universal que em seu conceito é “a marcha gradual da evolução da consciência do Espírito no tocante à sua liberdade e a realização efetiva de tal consciência”. (HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich.A Razão na História. Ed. Morais, 1990 p.60).

Autora: Marister Magalhães Frota Prado
Instituição – UECE
E-mail – maristerprado@gemail.com

2 comentários:

  1. Caríssimo Editor Sebastião Soares, estou agradecida por publicar o resumo de meu trabalho. Posso te enviar outro?

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  2. Minha gente, fazendo a leitura do meu texto descobri dois erros de digitação. Vou tentar corrigir aqui.
    1) Onde se diz "história refletiva, diga-se: história refletida.
    2) Onde se diz "tranquilidade como a clama de uma criança", diga-se: tranquilidade como a calma de uma criança.

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