E para você, o que o ser? O nada? Como é ser idêntico a si mesmo? Em que sentido o ser é o mais abstrato.
Em 1996, descobriu-se em Atenas, Grécia, o sítio arqueológico onde
funcionou o Liceu - a escola fundada por Aristóteles (384-322
a.C.), para concorrer com a Academia, a escola anterior, fundada por seu antigo
professor, Platão (427-347
a.C.). A fundação do Liceu não reflete nenhuma ingratidão do discípulo com seu
mestre, que por sinal já havia morrido cerca de dez anos quando a escola
aristotélica surgiu (336 a.C.).
Aluno de Platão, a quem reconhecia o gênio, Aristóteles passou a
discordar de uma ideia fundamental de sua filosofia e, então, o pensamento dos
dois se distanciou. Talvez seja esse o ponto de partida para se falar da obra
filosófica aristotélica. Platão concebia a existência de dois mundos: aquele que é apreendido por
nossos sentidos - por assim dizer, o mundo concreto -, que está em constante
mutação; e um outro mundo - abstrato -, o mundo das ideias, imutável,
independente do tempo e do espaço, que nos é acessível somente pelo intelecto.
O mundo da experiência
Para Aristóteles, existe um único mundo: este em que vivemos. Só nele
encontramos bases sólidas para empreender investigações filosóficas. Aliás, é o
nosso deslumbramento com este mundo que nos leva a filosofar, para conhecê-lo e
entendê-lo. Aristóteles sustenta que o que está além de nossa experiência não
pode ser nada para nós. Nesse sentido, ele não acreditava e não via razões para
acreditar no mundo das ideias ou das formas ideais platônicas.
Porém, conhecer o mundo da experiência, "concreto", foi um
desejo ao qual Aristóteles se entregou apaixonadamente. Assim, ele descreveu os
campos básicos da investigação da realidade e deu-lhes os nomes com que são
conhecidos até os nossos dias: lógica, física, política, economia, psicologia,
metafísica, meteorologia, retórica e ética.
Aliás, ele inventou também os termos técnicos dessas disciplinas e eles
também se mantêm em uso desde então. Exemplos? Energia, dinâmica, indução,
demonstração, substância, essência, propriedade, categoria, proposição, tópico,
etc.
O que é ser?

Aristóteles aplicou a lógica, antes de mais nada, para responder a uma questão que lhe parecia a mais importante de todas: o que é ser?, ou, em outras palavras, o que significa existir? Primeiramente, o filósofo constatou que as coisas não são a matéria de que se constituem.
Por exemplo, uma pilha de telhas, outra de tijolos, vigas e colunas de madeira não são uma casa. Para se tornarem casa, é necessário que estejam reunidas de um modo determinado, numa estrutura muito específica e detalhada. Essa estrutura é a casa; e os materiais, embora necessários, podem variar.
Com o tempo, nosso corpo está em
constante mutação - transforma-se da infância para adolescência, desta para a
idade adulta e, finalmente, para a velhice. Nem por isso deixamos de ser nós
mesmos. Da mesma maneira, um cão é um cão em virtude de uma organização e
estrutura que ele compartilha com outros cães e que o diferencia de outros animais
que também são feitos de carne, pelos, ossos, sangue...
As quatro causas
Para Aristóteles uma coisa é o que é
devido a sua forma. Como, porém, o filósofo entende
essa expressão? Ele compreende a forma como a explicação da coisa, a causa de
algo ser aquilo que é. Na verdade, Aristóteles distingue a existência de quatro
causas diferentes e complementares:
Causa
material: de que a coisa é feita? No exemplo da casa, de tijolos.
Causa
eficiente: o que fez a coisa? A construção.
Causa
formal: o que lhe dá a forma? A própria casa.
Causa
final: o que lhe deu a forma? A intenção do construtor.
Embora Aristóteles não seja materialista (vimos que a forma não é a matéria), sua explicação do mundo é mundana, está no próprio mundo. Finalmente, para o filósofo, a essência de qualquer objeto é a sua função. Diz ele que, se o olho tivesse uma alma, esta seria o olhar; se um machado tivesse uma alma, esta seria o cortar. Entendendo isso, entendemos as coisas.
Embora Aristóteles não seja materialista (vimos que a forma não é a matéria), sua explicação do mundo é mundana, está no próprio mundo. Finalmente, para o filósofo, a essência de qualquer objeto é a sua função. Diz ele que, se o olho tivesse uma alma, esta seria o olhar; se um machado tivesse uma alma, esta seria o cortar. Entendendo isso, entendemos as coisas.
Mas o pensamento aristotélico não se
limitou a essa área da filosofia que podemos chamar de teoria do conhecimento
ou epistemologia. Deixando de lado os domínios que deram origem a outras
ciências e nos limitando à filosofia propriamente dita, Aristóteles ainda
refletiu sobre a ética, a política e a poética (que, no caso, compreende não
apenas a poesia, mas a obra literária e teatral).
Ética e política
No campo da ética, segundo Aristóteles,
todos nós queremos ser felizes no sentido mais pleno dessa palavra. Para obter
a felicidade, devemos desenvolver e exercer nossas capacidades no interior do
convívio social.
Aristóteles acredita que a autoindulgência
e a autoconfiança exageradas criam conflitos com os outros e prejudicam nosso
caráter. Contudo, inibir esses sentimentos também seria prejudicial. Vem daí
sua célebre doutrina do justo meio, pela qual
a virtude é um ponto intermediário entre dois extremos, os
quais, por sua vez, constituem vícios ou defeitos de caráter.
Por exemplo, a generosidade é uma
virtude que se situa entre o esbanjamento e a mesquinharia. A coragem fica
entre a imprudência e a covardia; o amor-próprio, entre a vaidade e a falta de
autoestima, o desprezo por si mesmo. Nesse sentido, a ética aristotélica é uma
ética do comedimento, da moderação, do afastamento de todo e qualquer excesso.
Para Aristóteles, é a ética que conduz à política. Segundo o filósofo, governar é permitir aos cidadãos viver a vida plena e feliz eticamente alcançada. O Estado, portanto, deve tornar possível o desenvolvimento e a felicidade do indivíduo. Por fim, o indivíduo só pode ser feliz em sociedade, pois o homem é, mais do que um ser social, um animal político - ou seja, que precisa estabelecer relações com outros homens.
O papel da arte
Para Aristóteles, é a ética que conduz à política. Segundo o filósofo, governar é permitir aos cidadãos viver a vida plena e feliz eticamente alcançada. O Estado, portanto, deve tornar possível o desenvolvimento e a felicidade do indivíduo. Por fim, o indivíduo só pode ser feliz em sociedade, pois o homem é, mais do que um ser social, um animal político - ou seja, que precisa estabelecer relações com outros homens.
O papel da arte
A poética tem, para Aristóteles, um papel
importantíssimo nisso, na medida em que é a arte - em especial a tragédia - que nos proporciona as grandes noções sobre a
vida, por meio de uma experiência emocional. Identificamo-nos com os
personagens da tragédia e isso nos proporciona a catarse, uma descarga de
desordens emocionais que nos purifica, seja pela piedade ou pelo terror que o
conflito vivido pelas personagens desperta em nós.
Tudo isso é, evidentemente, um resumo
ultrasintético do pensamento aristotélico. Sua obra é gigantesca, apesar de a
maior parte dela ter se perdido ao longo dos tempos. O que chegou até nós
corresponde a 1/5 de sua produção. São notas suas e de seus discípulos que
passaram nas mãos de estudiosos da Antiguidade, da Idade Média (parte dos quais
em países islâmicos), e que foram reorganizadas pela posteridade.
Principalmente
em função disso, a leitura de Aristóteles é difícil e seus textos não possuem a
qualidade artística que encontramos nas obras de Platão.
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