segunda-feira, 25 de maio de 2015

Psiquiatra e filósofo, Dr. Neel Burton explica que a depressão pode representar um mergulho mais profundo no significado e importância da vida


The anatomy of melancholy -- Can depression be good for you?  Neel Burt

Em uma recente conversa TEDx, o psiquiatra e filósofo, Dr. Neel Burton explicou que a depressão pode representar um mergulho mais profundo no significado e importância da vida. Uma pessoa que experimenta a depressão pode ser entendida como trabalhando para dar sentido e aprimorar a vida. Além disso, a depressão pode ser uma maneira de preparar um futuro melhor e ainda mais saudável tanto para nós quanto para aqueles que nos rodeiam. Dr. Burton continua a mencionar que algumas das pessoas mais influentes e inspiradoras da história lidaram com a com a depressão ao longo de suas vidas, tais como, Abraham Lincoln e Winston Churchill. Sua busca pela paz e felicidade guiava seus corações e mentes para o poço da depressão, mas essa inquietação os auxiliou na mudança do curso da história.
É preciso imensa vontade e transparência para reconhecer e lidar com a presença da depressão, mas também é possível que ela seja um grande impulssionador para que as pessoas criem respostas nos momentos mais sombrios de suas vidas. Em conclusão, a depressão pode levar as pessoas para os bosques profundos de suas alma, mas também pode ajudá-las a limpar as ervas daninhas desnecessárias e os arbustos que podem estar se escondendo a beleza da vida.

O Alzheimer descrito pelo paciente

Sou médico aposentado e professor de medicina. E tenho Alzheimer. Antes do meu diagnóstico, estava familiarizado com a doença, tratando pacientes com Alzheimer durante anos. Mas demorei para suspeitar da minha própria aflição.
Hoje, sabendo que tenho a doença, consegui determinar quando ela começou, há 10 anos, quando estava com 76. Eu presidia um programa mensal de palestras sobre ética médica e conhecia a maior parte dos oradores. Mas, de repente, precisei recorrer ao material que já estava preparado para fazer as apresentações. Comecei então a esquecer nomes, mas nunca as fisionomias. Esses lapsos são comuns em pessoas idosas, de modo que não me preocupei. Nos anos seguintes, submeti-me a uma cirurgia das coronárias e mais tarde tive dois pequenos derrames cerebrais. Meu neurologista atribuiu os meus problemas a esses derrames, mas minha mente continuou a deteriorar. O golpe final foi há um ano, quando estava recebendo uma menção honrosa no hospital onde trabalhava. Levantei-me para agradecer e não consegui dizer uma palavra sequer.
Minha mulher insistiu para eu consultar um médico. Meu clínico-geral realizou uma série de testes de memória em seu consultório e pediu depois uma tomografia PET, que diagnostica a doença com 95% de precisão. Comecei a ser medicado com Aricept, que tem muitos efeitos colaterais. Eu me ressenti de dois deles: diarreia e perda de apetite.
Meu médico insistiu para eu continuar. Os efeitos colaterais desapareceram e comecei a tomar mais um medicamento, Namenda. Esses remédios, em muitos pacientes, não surtem nenhum efeito. Fui um dos raros felizardos.
Em dois meses, senti-me muito melhor e hoje quase voltei ao normal. Demoramos muito tempo para compreender essa doença desde que Alois Alzheimer, médico alemão, estabeleceu os primeiros elos, no início do século 20, entre a demência e a presença de placas e emaranhados de material desconhecido.
Hoje sabemos que esse material é o acumulo de uma proteína chamada beta-amiloide. A hipótese principal para o mecanismo da doença de Alzheimer é que essa proteína se acumula nas células do cérebro, provocando uma degeneração dos neurônios. Hoje, há alguns produtos farmacêuticos para limpar essa proteína das células.
No entanto, as placas de amiloide podem ser detectadas apenas numa autópsia, de modo que são associadas apenas com pessoas que desenvolveram plenamente a doença. Não sabemos se esses são os primeiros indicadores biológicos da doença.
Mas há muitas coisas que aprendemos. A partir da minha melhora, passei a fazer uma lista de insights que gostaria de compartilhar com outras pessoas que enfrentam problemas de memória: tenha sempre consigo um caderninho de notas e escreva o que deseja lembrar mais tarde.
Quando não conseguir lembrar de um nome, peça para que a pessoa o repita e então escreva. Leia livros. Faça caminhadas. Dedique-se ao desenho e à pintura.
Pratique jardinagem. Faça quebra-cabeças e jogos. Experimente coisas novas. Organize o seu dia. Adote uma dieta saudável, que inclua peixe duas vezes por semana, frutas e legumes e vegetais, ácidos graxos ômega 3.
Não se afaste dos amigos e da sua família. É um conselho que aprendi a duras penas. Temendo que as pessoas se apiedassem de mim, procurei manter a minha doença em segredo e isso significou me afastar das pessoas que eu amava. Mas agora me sinto gratificado ao ver como as pessoas são tolerantes e como desejam ajudar.
A doença afeta 1 a cada 8 pessoas com mais de 65 anos e quase a metade dos que têm mais de 85. A previsão é de que o número de pessoas com Alzheimer nos EUA dobre até 2030.
Sei que, como qualquer outro ser humano, um dia vou morrer. Assim, certifiquei-me dos documentos que necessitava examinar e assinar enquanto ainda estou capaz e desperto, coisas como deixar recomendações por escrito ou uma ordem para desligar os aparelhos quando não houver chance de recuperação. Procurei assegurar que aqueles que amo saibam dos meus desejos. Quando não souber mais quem sou, não reconhecer mais as pessoas ou estiver incapacitado, sem nenhuma chance de melhora, quero apenas consolo e cuidados paliativos.
Arthur Rivin
(Foi Clínico-Geral e é Professor Emérito da Universidade da Califórnia)

Coisas para nunca dizer a uma pessoa com a doença de Alzheimer


NÃO DIZER ALZHEIMER

Ontem à tarde, eu entrei no quarto espaçoso pertencente a Maria, uma mulher com demência que recebe poucas visitas e com quem me ofereci para passar um pouco de tempo a cada semana. Eu a cumprimentei, elogiei seu lindo suéter azul-turquesa e apertei sua mão.
Em seguida, sentei-me em uma pequena mesa que estava transbordando de livros, fotografias, jornais e outros itens que ela gosta de manter sempre à mão e peguei uma pequena foto emoldurada de Maria com o marido e seus três filhos – dois filhos e uma filha.
“Conte-me sobre a sua filha,” eu disse, usando uma questão em aberto porque eles não têm respostas certas ou erradas. Essa é uma dica que aprendi com a abordagem The Best Friends Approach to Alzheimer’s Care de Virginia Bell e David Troxell.
“Oh, seu nome é Connie”, ela me disse. “Ela tem quatro filhos – dois meninos e duas meninas.”
Ela continuou, me dando vários detalhes sobre Connie e sua família. Eu, então, peguei uma fotografia de Maria e de sua irmã gêmea, Bernice, e ela me contou sobre como elas tiveram aulas de piano juntas quando eram crianças. Depois de alguns minutos, eu lhe perguntei se sua filha já tocara algum instrumento musical.
“Eu não tenho uma filha”, disse ela com naturalidade.
“Oh,” eu respondi, pegando a foto de família novamente e segurando-a para ela ver. “Você acabou de me dizer que você tem uma filha. Aqui está ela.”
O rosto de Mary se abateu e ela comentou constrangida: “Eu acho que eu tenho uma filha.”
Eu imediatamente me senti mal pelo constrangimento que lhe causei e fiquei chateada comigo mesma por ter apontado o seu erro. Eu percebi que tinha quebrado uma das regras fundamentais para interagir com uma pessoa que sofre de demência.
Quando nos relacionamos com a uma pessoa que sofre com a doença de Alzheimer, existem muitas orientações a seguir e que podem melhorar consideravelmente a comunicação. Vou discutir cinco das mais básicas aqui: 1) Não lhes dizer que eles estão errados sobre algo, 2) Não discutir com eles, 3) Não perguntar se eles se lembram de alguma coisa, 4) não lhes lembrar que o seu cônjuge, pai ou outro ente querido está morto, e 5) Não abordar tópicos que podem perturbar-los.
Não lhes diga que eles estão errados sobre algo: Para que eles mantenham seu humor mais estável e se sintam bem, é melhor não contradizê-los ou corrigí-los. Não existe nenhuma razão suficientemente boa para fazer isso.  Se eles estiverem em um momento mais lúcido vamos causar um constrangimento desnecessário e, se não estiverem, também eles também poderão se sentir mal pois perceberão a confusão e o desentendimento e também ficarão constrangidos e/ou nervosos.
Não discuta: nunca é uma boa ideia discutir com uma pessoa que sofre de demência. Primeiro de tudo, você não pode ganhar. E segundo, as duas pessoas ficarão irritadas, você e o doente. Eu aprendi há muito tempo, quando cuidava do meu amado marido, Ed, que a melhor coisa a fazer é simplesmente mudar de assunto – de preferência para algo agradável que prenda imediatamente a sua atenção. Dessa forma, a pessoa provavelmente se esquecerá do desacordo e o dia ficará mais leve para todos.
Não pergunte se a pessoa se lembra de algo específico: Ao falar com uma pessoa que tem a doença de Alzheimer, é tão tentador perguntar se elas se lembra de alguma pessoa ou evento. “O que você almoçou?” “O que você fez hoje de manhã?”, “Este é David. Lembra-se dele?”, ” Você se lembra que comemos doces a última vez que estive aqui?”. É claro que eles não me lembram. Caso contrário, eles não teriam o diagnóstico de demência. Isso pode constrangê-los ou frustrá-los. É melhor dizer: “Eu me lembro que comemos doces a última vez que estive aqui.  Foi delicioso.” Ou seja, faça da sua pergunta um comentário.
Não lembre a pessoa que um ente querido dela está morto: Não é incomum para as pessoas com demência acrediem que seu cônjuge falecido, pai ou outro ente querido ainda está vivo. Eles podem ficam confusos ou se sentirem mal porque essas pessoas não vêm visitá-los. Se você informá-los de que a pessoa está morta, eles podem não acreditar e ficarem muito nervosos e confusos.  Além do mais, eles estão tão propensos a esquecer tão cedo o que você disse e voltar a acreditar que sua amada ainda está viva que todo o desgaste torna-se um sofrimento desnecessário. Uma excepção a esta orientação é se eles perguntarem se a pessoa morreu. Nesse caso é aconselhável dar-lhes uma resposta honesta, mesmo que eles se esqueçam depois.
Não aborde temas que possam perturbá-los: Não há nenhuma razão para trazer temas que você sabe que  podem perturbar o seu ente querido.
Marie Marley é uma premiado autora de livros sobre Alzheimer como Come Back Early Today: A Memoir of Love, Alzheimer’s and Joy. Conheça seu website, ComeBackEarlyToday.com.
Traduzido e adaptado exclusivamente para o Conti outra por Josie Conti.

sábado, 23 de maio de 2015

La belleza

Belleza no es pelo largo, piernas delgadas, piel bronceada. Créanme. Belleza es la cara de quien lloró y ahora sonríe. Belleza es la cicatriz de la rodilla de cuando te caíste de niño. Belleza es cuando el amor no te deja dormir. Belleza es la expresión de tu cara al escuchar la alarma del reloj en la mañana. Belleza es cuando tienes el maquillaje corrido en la ducha. Es la carcajada cuando cuentas un chiste que solo tú entiendes. Belleza es mirar a la persona que te gusta y dejar de entender porqué. Es cuando llorar por todas tus paranoias. Belleza es la línea marcada por el tiempo. Belleza es lo que sentimos dentro y lo expresamos por fuera de nosotros. Belleza son las marcas que la vida deja, todas las patadas y caricias en nuestra memoria. Belleza es dejarte vivir."  - Emma Watson

As neurociências: um texto de introdução

O cérebro na intersecção de ciência, medicina e tecnologia.

O cérebro, o órgão mais complexo do corpo, é o mais crucial para a compreensão do ser humano. É o objetivo de estudo de cientistas e médicos de diversas especialidades, desde a biologia molecular à psicologia cognitiva e experimental, assim como anatomia, fisiologia e farmacologia. A estrutura e funcionamento do cérebro é ainda o objeto de interesse de engenheiros e cientistas da computação que desenvolvem interfaces homem-máquina, próteses e ambientes de realidade virtual. Esta junção de interesses criou uma nova área, intrinsecamente multi- e interdisciplinar, chamada de Neurociência. No século XX, a neurociência emergiu como campo científico com origem em, mas distinto de, outras disciplinas, da mesma forma que artes, justiça, teologia e medicina emergiram como campos da sabedoria nas universidades medievais, que a física nasceu de uma convergência de geometria, filosofia metafísica, matemática aplicada e astronomia e a psicologia de escolas na filosofia epistemológica, medicina e fisiologia, entre outras fontes. A neurociência agregou o conhecimento, com raízes em diversas áreas, em volta de um objeto de estudo e se tornou uma disciplina madura.
A expansão das neurociências
Impulsionada por descobertas científicas e potenciais para o tratamento de doenças neurológicas comuns, a área de neurociência vivencia mundialmente um crescimento vertiginoso nos últimos 25 anos. A Society for Neuroscience, sociedade internacional na área, cresceu de 500 membros em 1969, quando foi fundada, até 40.000 membros em 2010. Evidenciamos uma alta produtividade em temáticas relacionadas com aplicações que envolvem células-tronco, implantes de neuro-estimuladores, desenvolvimento de interfaces tecnológicos e técnicas de imageamento cerebral. Nos EUA os anos 1990-1999 foram declarados como a Década do Cérebro em reconhecimento a esta nova área, o número de participantes no principal evento científico na área superou a marca de 30.000 e praticamente diariamente é possível encontrar nos jornais diários reportagens de divulgação de descobertas científicas ou tecnológicas a partir de estudos do campo da neurociência.
A neurociência do século XXI
O crescimento exponencial do conhecimento sobre o sistema nervoso ocorreu em função da disponibilidade de novas técnicas em todos os níveis. Por exemplo, descobriu-se a estrutura funcional do cérebro humano em ação graças à tomografia por emissão de pósitrons a partir dos anos 80, a organização modular com o sinal-BOLD da ressonância magnética funcional nos anos 90, a conectividade cortical por imageamento de tensor de difusão, ainda em desenvolvimento. Novas maneiras de abordar mecanismos bioquímicos e fisiológicos no sistema nervoso são fornecidas por estudos com camundongos transgênicos, a partir dos anos 90, pela expressão da proteína verde fluorescente e, ainda mais recentemente, a ativação ou inibição de neurônios pela modulação por luz de canais iônicos optogeneticamente modificados e imageamento ultra-rápido da dinâmica neuronal com tecnologia de laser. Se cada uma destas técnicas já é extremamente promissora, a combinação e integração com métodos existentes revolucionará o entendimento do elo entre biologia do sistema nervoso e o funcionamento da mente.
Junta-se à revolução biotecnológica a revolução digital. Processadores continuam seguindo a lei de Moore, com uma duplicação em densidade de transistores a cada dois anos, e o uso paralelo de recursos tem sido otimizado e amplificado. Desta forma, técnicas de análise, modelagem e simulação que antigamente não podiam ser implementadas por causa da demanda computacional agora estão dentro do alcance de pesquisadores. Modelos matemáticos refinados de funções corticais agora podem ser testados, e a comunidade de cientistas de computação retomou o interesse em entender como o cérebro funciona, fato ilustrado pela colocação da arquitetura do cérebro e da mente como item entre os “Grand Challenge 5” pela British Computer Society. Sem o crescimento exponencial do poder digital, a decodificação de padrões de ativação neural, essencial no desenvolvimento atual de próteses controladas pela volição, não teria sido possível. Se o neurocientista do século XX já não tinha um perfil tradicional, o neurocientista do século XXI precisa possuir uma base sólida em biologia, entre outras ciências, e em técnicas que exigem o domínio do computador como ferramenta de análise e de modelagem.
A neurociência e a sociedade

Como ocorreu em outras ciências, a evolução da neurociência é caracterizada pela busca inicial dos princípios fundamentais em estudos de ciência básica, seguida pelas perguntas de como o novo conhecimento pode servir a humanidade, e pelo caminho inverso simultâneo, em qual a sociedade coloca questões a serem acatadas por cientistas. A comunidade tem seguido o progresso no entendimento do cérebro de perto, curiosa em saber como funciona o que parece ser o órgão que nos define como humanos. O fascínio estimula a produção de ensaios, blogues e livros voltados para leigos, da mão de escritores como Isaac Asimov (ex. “O cérebro humano”), Oliver Sacks (ex. “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”), ou, no cenário nacional, Iván Izquierdo (ex. “Questões sobre memória”), Suzana Herculano-Houzel (ex. “O cérebro nosso de cada dia”, além de um quadro em um programa popular de infotenimento), e Roberto Lent com uma série de livros sobre neurociência para crianças.
Como em outras ciências, a sociedade procura o neurocientista para, em primeiro lugar, resolver problemas de pacientes, e em segundo lugar, melhorar a qualidade de vida da população em geral, ou seja, para aplicar o conhecimento que produz no contexto clínico e cotidiano. No primeiro quesito, a neurociência revelou mecanismos patogênicos em condições neurológicas prevalentes, como esclerose múltipla, o mal de Parkinson ou a demência de Alzheimer, o que leva à esperança de diagnose precoce e tratamento para retardar de forma significativa a progressão destas síndromes. Métodos desenvolvidos na neurociência elucidaram os desequilíbrios que causam doenças psiquiátricas, entre os maiores problemas de saúde pública a depressão, o abuso de drogas e a esquizofrenia. Segundo estatísticas da OMS, o Brasil está na pior situação possível, com no ano 2004, entre 192 países-membro, o segundo maior índice de anos perdidos à debilitação ou morte por depressão e a segunda pior posição para doenças neuropsiquiátricas em geral (DALY rates, Global Health Observatory). A neurociência é encarregada com a grande responsabilidade de fazer progressos significativos nesta área, junto com a psicoterapia, a psiquiatria e outras disciplinas tradicionais envolvidas no estudo da saúde mental; métodos recentes com modelos animais, estudos psicofarmacológicos e técnicas como tomografiapor emissão de fóton único com ligantes específicos têm levado a avanços encorajadores.

Mesmo nos casos em quais a ciência não dê as respostas que levam à cura de uma doença, a independência de um paciente pode ser melhorada drasticamente através do desenho cuidadoso do ambiente com qual ele interage. Adaptações deste tipo requerem um entendimento profundo de como o homem seleciona e processa informação na sua volta e como condições específicas afetam o quadro normal, baseado em estudos experimentais comportamentais. Esta questão é generaliza para a população como um todo. Na época da informação que estamos presenciando, o acesso a dados e a dispositivos eletrônicos ou de outra natureza que os fornecem certamente contribuiu de forma importante ao nosso bemestar. No entanto, a apresentação ineficiente de informação em interfaces não-intuitivas, em tabelas complexas, em displays sobrecarregados, é causa de erros e frustração para muitos. Há situações em quais a exposição confusa de dados pode levar a prejuízos importantes, como na leitura de uma bula e a interpretação das instruções de um médico. Com métodos da psicologia experimental em combinação com neuroimagem e outros registros, a neurociência cognitiva indica caminhos para evitar os chamados erros humanos, com pequenas ou grandes consequências.

Uma outra área onde a neurociência está começando a cumprir um papel importante é na educação. A aprendizagem seja talvez a área onde a neurociência funcional tenha conseguido o maior progresso nos últimos 30 anos. Neste contexto, a aprendizagem não necessariamente possui o mesmo significado como entendido como aprendizagem escolar. No entanto, a elucidação das bases biológicas da memória dá pistas valiosas sobre como facilitar a aprendizagem declarativa ou procedural, como direcionar a atenção, como fixar a aprendizagem. Desta forma, a neurociência é um guia para a elaboração de estratégias de ensino para cientistas educacionais.
Recentemente, a neurociência tem entrado como elemento na argumentação em foros de justiça criminal. No curso de alguns processos na cena mundial, ressonância magnética funcional foi defendida como uma alternativa moderna e mais confiável às antigas testes poligráficos para detecção de decepção. Têm sido registrados casos em quais a responsabilidade penal do réu foi questionada baseada em neuroimagem estrutural ou efeitos colaterais de remédios farmacológicos. Estas versões modernas do pleito de incidente de insanidade mental sempre são acompanhadas da discussão da validade destes argumentos como evidência no contexto da jurisprudência, e no nível da sociedade, da ponderação de determinantes neurológicos do comportamento e personalidade versus livre arbítrio em comportamento e personalidade.
A aplicação de descobertas e técnicas científicas a estas e outras áreas cruciais para a sociedade necessita de uma mente criativa e aberta, com acesso a uma base científica de várias disciplinas tradicionais, a uma forte preparação metodológica e uma gama de técnicas contemporâneas biológicas, comportamentais e computacionais. A necessidade de um profissional com este perfil, especializado e atualizado em neurociência, para providenciar assistência na solução de desafios concretos em laboratórios, hospitais, escolas, ou outras organizações públicas ou comerciais, é a razão pela proposta de um bacharelado em neurociência.
Histórico do ensino em neurociência

Nas últimas décadas, a importância e abrangência das possíveis aplicações do campo de neurociência gerou uma necessidade de profissionais com conhecimentos amplos em diversas disciplinas tradicionais e na realidade, profissionais no novo campo chamado neurociência. Os programas de pós-graduação em áreas como psicologia, engenharia, computação, biologia e medicina, estavam demandando alunos com perfil flexível, por exemplo, alunos versados na estrutura e função do sistema nervoso central, mas também capazes de implementar e testar seus modelos em computador. Pequenas empresas estavam interessadas em profissionais capazes de auxiliar seus engenheiros em desenhar e construir órgãos sensoriais artificiais e robôs eficientes. Jornais e revistas semanais estavam procurando profissionais capazes de transmitir informações científicas da área de forma clara e precisa. Esta forte demanda resultou na criação de mais de cem cursos de bacharelado em neurociência somente nos EUA, alguns deles nas instituições do mais alto prestígio, como a MIT, Johns Hopkins, University of California e Duke University, mas também em universidades menos conhecidas. Outros cursos de graduação estão em funcionamento na Europa, em universidades nas cidades de Essex, Rochester, Amsterdã e Lausanne, entre outras.
No Brasil, o único curso que atualmente vai ao encontro da proposta de um bacharelado na área das neurociências é o curso de Graduação em Ciências Biológicas, Bacharelado com ênfase em Neurociências, instituído em janeiro de 2010 pela Universidade Federal Fluminense (UFF). A grade curricular deste curso é mais especificamente orientada à biologia e neurobiologia do que às neurociências em geral. A ausência de opções tem suas origens na percepção do campo de neurociência na sua versão dos anos 70 e 80, uma área focada em pesquisa básica e dominada por estudos acadêmicos. Outro fator é a noção da falta de opção de ocupação de um bacharel em neurociência no Brasil. Com o desenvolvimento econômico do país e a ampliação da aplicabilidade da neurociência, é preciso desafiar esta pressuposição.
Tradicionalmente, o ensino de técnicas na área das neurociências em países emergentes é realizado em nível de bacharelado através de cursos breves e específicos direcionados a médicos, enfermeiros, paramédicos, psicólogos e outros profissionais. Este modo de ensino é limitado em uma área em qual a integração do conhecimento sobre várias disciplinas é tão crucial. Programas de mestrado e doutorado em neurociências no Brasil – e outros países emergentes – preparam em primeiro lugar para pesquisa acadêmica e não necessariamente atendem a um perfil mais voltado para tecnologia e aplicação. Com uma conjuntura favorável para investimentos por parte de instituições públicas e privadas, surge o interesse em empregar um bacharel com conhecimento e habilidades específicos também em um país emergente. Entre os países BRIC, um bacharelado na área já é oferecido na Sri Ramachandra University na Índia, sob o nome de BSc. in Neuroscience Technology na faculdade de Allied Health Sciences. A raridade do bacharelado em neurociência em outros países em desenvolvimento provavelmente deve-se à escassez de mestres e doutores na área para o ensino das disciplinas dentro do país. Em geral, a neurociência é recente nestes países; por exemplo, a Sociedade Chinesa de Neurociência foi fundada só em 1995. Em comparação, o Brasil tem um histórico extenso com origem no Instituto Oswaldo Cruz e especialmente com o trabalho do Miguel Ozório de Almeida a partir dos anos 1940, e hoje conta com muitos pesquisadores de renome internacional. Com a disponibilidade de recursos de investimento, técnicas e tecnologias, pesquisadores na área para compor uma base docente especializada, combinada com a grande concentração de laboratórios clínicos, hospitais, universidades, instituições e indústrias na área metropolitana paulistana, maior centro populacional da América do Sul, a graduação em neurociência não só torna-se possível, mas necessária.
O curso de Bacharelado em Neurociência nasceu a partir de iniciativas do Centro de Matemática, Computação e Cognição (CMCC) e do Núcleo de Cognição e Sistemas Complexos (NCSC) da Universidade Federal do ABC (UFABC), com apoio da Reitoria e da Pró-Reitoria de Graduação. A proposta parte de uma visão contemporânea, concebendo a Neurociência como uma área composta por atuação em múltiplas linhas, desde a pesquisa básica, passando pela pesquisa aplicada até o desenvolvimento tecnológico. Além de preparar alunos para um leque de programas de pós-graduação, o futuro bacharel em neurociência será um profissional procurado por indústrias farmacêuticas, empresas de desenvolvimento tecnológico, hospitais e editoras. Este mercado potencial tende a se expandir na medida em que o Brasil se desenvolve economicamente e tecnologicamente.
Relação com outros cursos de graduação no Brasil
A formação de um bacharel em neurociência exige uma estrutura curricular altamente multi- e interdisciplinar por natureza. Não é uma coincidência, portanto, que este curso nasça na Universidade Federal do ABC, onde a interdisciplinaridade é um ingrediente essencial no projeto pedagógico no curso do Bacharelado em Ciência e Tecnologia (BC&T), a base de ensino do projeto atual. Entretanto, é importante salientar que este curso não é por inteiro experimental e inovador em relação ao Brasil. Algumas faculdades públicas já oferecem cursos de bacharelado interdisciplinares em áreas relacionadas ou com a mesma filosofia de ensino, seja sem o enfoque em neurociência. Por exemplo, a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) oferece um curso de graduação em Ciências Biomédicas, modalidade Medicina (ou Biomedicina). Este curso é muito mais orientado à área biológica do que o curso aqui proposto, mas também exige um intenso estágio em laboratórios. Um outro curso é o Ciências Moleculares oferecido pela Universidade de São Paulo (USP). Este emergiu das necessidades da comunidade científica e da sociedade de uma abordagem mais integrada a certos desafios contemporâneos. A matriz curricular de Ciências Moleculares é composta de disciplinas nas áreas da matemática, física, química, biologia e computação. Com o conjunto de ferramentas fornecido pela convergência destas diversas áreas disciplinares, o aluno pode inserir-se em vários campos da ciência básica. Também no currículo desta graduação, a realização de um estágio de pesquisa desempenha um papel importante na formação do aluno. O mencionado curso em Ciências Biológicas com ênfase em Neurociências, no UFF, se assemelha à proposta aqui exposta no que se trata das disciplinas com orientação biológica, mas não inclui disciplinas que introduzem o aluno à cognição ou outras funções do sistema nervoso ou a métodos comportamentais e computacionais para o estudo do cérebro.
Resumindo, a relevância da neurociência cotidiana em vários setores da pesquisa básica, da pesquisa clínica, da pesquisa aplicada e da sociedade contrasta com a ausência de cursos de formação com perfil de graduação nesta área no Brasil. Propomos aqui o projeto pedagógico de um curso de Bacharelado em Neurociência, que será uma formação científica e crítica, fortemente interdisciplinar, com atenção para desenvolvimentos recentes na ciência básica como também na aplicação responsável deste conhecimento.
Texto extraído do Projeto de Bacharelado em Neurociência da UFABC
http://neuro.ufabc.edu.br/

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Nascimento da Filosofia

O nascimento da Filosofia enquanto conhecimento racional e sistemático, foi uma atividade que se iniciou na Grécia Antiga. O nascimento da Filosofia na Grécia se deve às características que o povo grego reunia naquela época.

A Filosofia no sentido de um conhecimento racional e sistemático, foi uma atividade que, segundo se defende na história da filosofia, iniciou na Grécia Antiga. Isso não significa que os demais povos da Antiguidade eram desprovidos de pensamento, mas sim que o pensamento filosófico ocorreu apenas porque a Grécia reunia características favoráveis a essa forma de expressão pautada por uma investigação racional.
O poeta Homero buscava as causas dos acontecimentos narrados e tentava apresentar uma versão completa do fato; o poeta Hesíodo, procurava por meio do nascimento dos deuses explicar a origem do universo. Essa tradição cultural teve repercussão na obra dos primeiros filósofos, como Pitágoras e Tales de Mileto.
Correlacionada aos mitos, as religiões gregas como Orfismo e os mistérios de Elêusis influenciou as filosofias de Pitágoras, Heráclito, Empédocles e Platão. A inexistência de um livro sagrado possibilitou a livre expressão de ideias.
O pensamento mítico explica a realidade a partir de uma realidade exterior, de ordem sobrenatural, que governa a natureza. O mito não necessita de explicação racional e, por isso, está associado à aceitação dos indivíduos e não há espaço para questionamentos ou críticas. O pensamento mítico perde a função de explicar a realidade, mas essa transição dependeu de fatores que transformaram a sociedade grega.
O pano de fundo é a decadência da civilização micênico-cretense, com uma estrutura fundada na monarquia divina, aristocracia militar e economia agrária. A invasão da Grécia pelas tribos dóricas propiciou o surgimento das cidades-Estado. A política, participativa, e o comércio que se desenvolvia, foram outros fatores que influenciaram a perda de importância do pensamento mítico.
Tanto o comércio, tanto a política, exigiam a convivência entre pensamentos distintos. É justamente em Mileto, colônia que representava o papel de importante porto comercial e que, portanto, era palco de intenso intercâmbio cultural, que surge a filosofia. Do desenvolvimento do comércio decorre também o aumento das viagens, assim, as pessoas descobriram que alguns lugares relatados nos mitos não existiam ou não eram povoados da forma como eram descritos. O mundo tornou-se mais concreto e menos encantado.
Com o comércio, também foi preciso inventar três tecnologias que inexistiam: o calendário, a moeda e o alfabeto. Com o calendário, tornou-se possível calcular o tempo e analisá-lo; com a moeda, tornou-se possível fazer uma troca simbólica de mercadorias por um valor abstrato. A invenção da escrita alfabética inaugura uma capacidade maior de abstração: ao contrário de escritas que partem de imagens, como os hieroglifos, a escrita alfabética representa a ideia.
A política, dentro desse contexto social agora formado também por pessoas que enriqueceram pelo comércio, inaugura a lei como forma de regular a cidade. No espaço público, marcado por diferenças, o discurso precisava também ser diferente: argumentativo. Em vez das decisões baseadas em mitos, surge a importância de convencer a todos a partir de argumentos apresentados e discutidos.
As primeiras escolas de pensamento, do período Pré-Socrático, eram caracterizadas pela importância da crítica a respeito daquilo que se ouvia. Pensamentos, diferentes das verdades transmitidas por tradição mítica, podiam ser questionados e reformulados a partir do exame dos argumentos que os sustentavam. Os questionamentos, também, precisavam ser sustentados por argumentos, ou seja, precisavam ser justificados por aqueles que discordavam a fim de que passassem por uma análise crítica.
Sobre esse aspecto, salienta o filósofo Karl Popper:
“O que é novo na filosofia grega (…), parece-me consistir não tanto na substituição dos mitos por algo mais “científico”, mas sim em uma nova atitude em relação aos mitos. Parece-me ser meramente uma consequência dessa nova atitude o fato de que seu caráter também começa então a mudar.
A nova atitude que tenho em mente é a atitude crítica. Em lugar de uma transmissão dogmática da doutrina (na qual todo o interesse consiste em preservar a tradição autêntica) encontramos uma tradição crítica da doutrina. Algumas pessoas começam a fazer perguntas a respeito da doutrina, duvidam da sua verdade, da sua veracidade.
A dúvida e a crítica existiram certamente antes disso. O que é novo, porém, é que a dúvida e a crítica tornam-se agora, por sua vez, parte da tradição de escola.”
Karl Popper, “O balde e o holofote” (apêndice), in: Conhecimento objetivo, São Paulo, Itatiaia/Edusp, 1974.

Por Wigvan Junior Pereira dos Santos


Conhecendo o cérebro




Mapa das sensações corporais

Um estudo finlandês recentemente publicado desenhou um “mapa das sensações corporais”. O esquema traz várias figuras humanas, destacando a temperatura de cada parte do corpo, de acordo com a emoção que a pessoa está sentindo no momento.

O esquema é o resultado de cinco experiências feitas com 701 participantes de diferentes regiões do mundo – e de diversas culturas -, que apontaram as alterações fisiológicas associadas a cada sentimento. Para a equipe de Lauri Nummenmaa, da Universidade de Aalto, a pesquisa sugere que as emoções são culturalmente universais, e mudanças nesse mapa poderiam indicar distúrbios emocionais.

O mapa térmico das emoções.

A imagem mostra os resultados da pesquisa, sendo que as partes em amarelo são as mais quentes, e as em azul, as mais frias. O estudo foi publicado pela PNAS, revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA.

Neurociência, moral e direito: seriedade e prudência


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Escrito por Atahualpa Fernandez e Marly Fernandez   
Por mais que a atividade científica seja desde há mais de um século o motor -inclusive econômico- das sociedades avançadas, por muito que resulte exemplar a dedicação dos investigadores à tarefa inacabada sempre de saber os “porquês” deste universo, em ocasiões os logros dos laboratórios têm um ponto de exploração publicitária que atrai tentações de risco por parte do mundo mediático. As notícias acerca dos descobrimentos científicos deveriam tratar-se com um rigor mais apurado, ainda que, para dizer a verdade, essa exigência é também necessária para as notícias políticas e econômicas. Se já não faz nenhuma diferença o fato de que todos dias a imprensa publique o último atropelo político do país, porque no mundo da política já enlouquecemos todos e se manejam cifras de escândalo como se se tratasse de uma troca de figurinhas em uma atividade que já não mais ultrapassa o umbral do trivial, com algo de tanta seriedade como é uma descoberta científica não se pode ir com frivolidades.

Um dos mehores exemplos do que estamos nos referindo parece ser, sem dúvida, a franca e crescente revolução das denominadas neurociências. A cada dia que passa, sucedem-se no noticiário novas tecnologias para obtenção de imagens detalhadas do cérebro em funcionamento, novas substâncias moduladoras da atividade cerebral e novas promessas de aniquilação de flagelos antigos como a depressão, a obesidade, a infelicidade , a perda de memória, etc. Todas essas promessas gritam  para nós das portadas sensacionalistas de livros, revistas, jornais, etc., todos “inspirados” nos recentes ( e constantes) resultados provenientes das investigações neurocientíficas – já há, inclusive, autores que falam de uma nova área de conhecimento: o “neurodireito”. A “neurocultura” parece estar, definitivamente, de moda.

Pois bem, para o que aqui nos interessa, a questão é saber que efeito as neurociências e as neurotecnologias em desenvolvimento têm sobre nosso sentido de natureza humana. Como caberia aplicar a ciência (particularmente a neurociência) ao direito e a moral sem tergiversar o sentido destes últimos? Até que ponto a neurociência e as novas neurotecnologias podem vir a afetar os sistemas jurídicos e éticos e a aplicação da justiça ( por exemplo, nosso senso de liberdade, crime e responsabilidade individual)?

Explicamos: a neurociência, em uma de suas vertentes, é a área de conhecimento que permite uma aproximação ao conhecimento de como se hão construído e que circuitos neuronais estão involucrados e participam na elaboração das decisões que toma o ser humano, a memória, emoção e o sentimento, e até mesmo os juízos e os pensamentos envolvidos nas condutas éticas. Trata-se de uma disciplina que  experimentou um crescimento espetacular nos últimos quinze anos. De seu modesto começo como um ramo da fisiologia, o estudo da relação cérebro/mente – também chamado de neurociência – se expandiu consideravelmente em anos recentes, agora fadado a se tornar a rainha das ciências. 

O número de artigos em revistas especializadas ou destinadas ao público em geral cresceu quase exponencialmente desde inícios da passada década. E este incremento no número de estudos e o correspondente aumento dos conhecimentos sobre o cérebro e seus correlatos comportamentais não passou desapercebido. A tal ponto que, recentemente, em um artigo publicado em Nature Neuroscience  por destacados neurocientistas de vários países, se fez um chamamento acerca da importância que os conhecimentos aportados pela nova disciplina, a neuroética, tem para a sociedade, logrando atrair a atenção de um número crescente de investigadores de reconhecido prestígio e removendo os outrora apáticos cimentos das distintas disciplinas das quais emergiu ( isto é, das múltiplas interfaces entre medicina, biologia, psicologia e filosofia – para citar apenas as mais destacadas).

Mas o atual esforço mundial realizado sobre as neurociências, potencialmente louvável, não deixou de gerar alguns problemas porque, como soe ocorrer quando uma área de trabalho e investigação altera súbita e radicalmente sua face, ao igual que um campo imantado de fascinação, acabou por provocar um pouco de desconcerto e desorientação: proliferam novos conceitos, fatos e argumentos a tal ponto que, de um lado, tornam por momentos difíceis – senão impossível – manter um panorama global, coerente e bem informado; do outro, tornam fluxos, débeis e vulneráveis os critérios de avaliação gerais que permitem julgar ditos conceitos, fatos e argumentos. O resultado de tais inconvenientes, pode ver-se, por exemplo, na desmedida produção de uma massa indigesta de fatos em todos os níveis e pelos diferentes discursos (descritivos e/ou explicativos) que estes acabam por gerar sobre a atividade mental e o cérebro.

 
Sobre os autores:

Atahualpa Fernandez
: Pós-doutor  
em Teoría Social, Ética y Economia /Universidade Pompeu Fabra; Doutor em Filosofía Jurídica, Moral y Política / Universidade de Barcelona; Mestre em Ciências Jurídico-civilísticas/Universidade de Coimbra; Pós-doutorado e Research Scholar do Center for Evolutionary Psychology da University of California,Santa Barbara; Research Scholar da Faculty of Law/CAU- Christian-Albrechts-Universität zu Kiel-Alemanha; Especialista em Direito Público /UFPa.; Professor Titular da  Unama/PA;Professor Colaborador (Livre Docente) e Investigador da Universitat de les Illes Balears/Espanha (Etologia, Cognición y Evolución Humana/ Laboratório de Sistemática Humana); Membro do MPU (aposentado).
 Marly Fernandez: Doutoranda em Filosofía (Cognición y Evolución Humana)/ Universitat de les Illes Balears- UIB/Espanha; Mestra em Cognición y Evolución Humana/ Universitat de les Illes Balears- UIB/Espanha; Mestra em Teoría del Derecho/ Universidad de Barcelona- UB/ Espanha ;Research Scholar  da Universitat de les Illes Balears/ UIB-Espanha (Etología, Cognición y Evolución Humana / Laboratório de Sistemática Humana).
Referência: Para a consulta da referência bibliográfica relativa aos autores citados neste artigo cfr.: Atahualpa Fernandez, Direito e natureza humana. As bases ontológicas do fenômeno jurídico, Curitiba, Ed. Juruá, 2006; Atahualpa Fernandez e Marly Fernandez: Neuroética, Direito e Neurociência, Curitiba: Ed. Juruá, 2007.

Pesquisa e Neurociência

Nos últimos 30 anos, a TTI Success Insights tem investido em aprimorar e refinar cientificamente suas soluções e instrumentos, utilizando-se de periódicas pesquisas de validação.
Estes projetos têm sido conduzidos por profissionais altamente capacitados e com larga experiência em pesquisa, estatística, neurociência e ferramentas de assessment.
Com um centro de pesquisa próprio, utilizando tecnologia de ponta, em sua sede em Scottsdale/Arizona, sob o comando do pesquisador Dr. Ron Bonnstetter, as pesquisas da TTI Success Insights são realizadas de várias formas, incluindo:
• Análise estatística não discriminante de bancos de dados com milhões de indivíduos.
• Em campo, junto com nossos parceiros, que têm acesso a uma grande variedade de populações, como estudantes, professores, administradores, atletas e profissionais.
• No laboratório de Pesquisa Cognitiva Aplicada (Applied Cognitive Research).
Em acréscimo à validação estatística tradicional efetuada para cada produto TTISI, o processo de validação VIDE (Validação Ipsativa da Tomada de Decisão usando Eletroencefalografia) compara as respostas de autopreenchimento com as ondas cerebrais correspondentes, vistas em tempo real por meio de imagens de eletroencefalograma (EEG).
 A importância dos fatores baixos
Usando o eletroencefalograma (EEG) junto com as avaliações, as pesquisas da TTISI confirmam que temos reações mais fortes e mais definidas às coisas de que não gostamos do que às coisas das quais gostamos. Esse entendimento a respeito dos fatores baixos levou a TTISI a criar avaliações mais precisas e ao aperfeiçoamento dos relatórios de análise de perfil.
Nossos relatórios que contêm DISC e Motivadores trazem páginas com análises exclusivas para os fatores baixos, um grande diferencial no mercado mundial de assessment.
 A necessidade de múltiplas avaliações
Seja lidando com atividades de seleção ou desenvolvimento de talentos, quanto mais informações você puder reunir, maiores as chances de um resultado excelente. A TTISI reconhece essa necessidade e oferece mais de 40 diferentes relatórios em 6 diferentes dimensões de análise.
Um estudo recente da TTISI descobriu que, usando apenas o instrumento DISC, empreendedores em série foram identificados corretamente 60% das vezes. Usando apenas os motivadores, eles foram identificados corretamente 59% das vezes.
Quando foram utilizados o DISC e os motivadores juntos, a precisão subiu para mais de 80%. Acrescentando o instrumento DNA de análise de competências aos instrumentos DISC e motivadores, a taxa de sucesso disparou para 92%.
 Comparando mapas cerebrais por EEG com os resultados das avaliações
Como parte do processo de validação de nossos instrumentos, os resultados do autopreenchimento são comparados às imagens cerebrais. Note, na imagem abaixo, como cada um dos quatro estímulos resulta em reações cerebrais bem diferentes.
A escolha de número 1, ou o item que MAIS o descreve, mostra uma reação mais forte no córtex pré-frontal esquerdo, enquanto a segunda e terceira escolhas mostram bem menos ativação. O resultado mais interessante são nossas reações às coisas das quais NÃO gostamos. Nesse caso, a pessoa demonstra uma negação ou rejeição muito pronunciada aos estímulos “agressivo, desafiador”.
 




















A importância de ter questionários em 34 idiomas
Que importância tem para as empresas brasileiras o preenchimento de questionários por profissionais estrangeiros em sua língua natal?
Para responder a esta e outras perguntas, a TTI Success Insights conduziu um experimento para entender como o cérebro reage quando uma pessoa preenche os questionários em diferentes idiomas. Nas imagens abaixo você irá observar as reações do cérebro de uma pessoa que respondeu a questões do questionário DISC, cujo idioma mãe é o espanhol, tem grande fluência em inglês e francês e uma menor fluência no idioma alemão.
Uma atividade predominante de ondas gama no córtex pré-frontal esquerdo significava aceitação e um aumento da atividade no pré-frontal direito representava rejeição. Como exemplo, veja a imagem cerebral da resposta à palavra “entusiasmado” em espanhol. Note o grau de aceitação no lobo esquerdo, em comparação com o direito (as cores amarela e vermelha mostram maior atividade neural).
Observe a intensidade do pensamento que está sendo gerado no cérebro, enquanto a pessoa tenta decodificar a palavra em alemão: a forte direcionalidade sumiu e um esforço mental tomou seu lugar, com o surgimento de uma intensa atividade no lobo direito, o que pode significar rejeição ou confusão, possivelmente prejudicando os resultados.


 Questionário DISC no formato R4
Pesquisas conduzidas pela TTI Success Insights comprovaram que um questionário DISC que se utiliza das quatro opções de resposta possui uma validação superior aos tradicionais questionários M/L, os quais pedem para o respondente sinalizar qual a opção que melhor e a que menos o descreve.
Com estas conclusões, a partir de 2012 no Brasil, todos os instrumentos TTI Success Insights utilizam o questionário R4, o mais moderno em uso no mundo atualmente.
No formato R4, todas as palavras são consideradas para a elaboração dos gráficos Natural e Adaptado do DISC.


http://www.ttisuccessinsights.com.br/pesquisa-e-neurociencia.shtml

A neurociência

A neurociência estuda as funções da mente, do cérebro e suas diversas relações com o funcionamento do corpo humano. Pode ser dividida em linhas de estudo a exemplo da neurofarmacolgia, neurofisiologia, neuroanatomia, entre outras. 

Utilizamos os princípios neurocientíficos ligados ao comportamento humano: emoções, funcionamento da mente, congnição (concentração, atenção e memória) e sua aplicabilidade aos processos de tomada de decisão, gerenciamento de stress, aumento do foco da atenção e da memória operacional, entre outros, buscando, na medida do possível, sua correlação com os mecanismos consensuais de solução de controvérsias.

Neurociência, informações e comentários


A neurociência é o estudo da realização física do processo de informação no sistema nervoso humano animal e humano. O estudo da neurociência engloba três áreas principais: a neurofisiologia, a neuroanatomia e neuropsicologia. 
A neurofisiologia é o estudo das funções do sistema nervoso. Ela utiliza eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de área maiores do cérebro. Ocasionalmente, separaram as conexões nervosas para avaliar os resultados.
A neuroanatomia é o estudo da estrutura do sistema nervoso, em nível microscópico e macroscópico. Os neuroanatomistas dissecam o cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura.
A neuropsicologia é o estudo da relação entre as funções neurais e psicológicas. A principal pergunta da neuropsicologia é qual área específica do cérebro controla ou media as funções psicológicas. O principal método de estudo usado pelos neuropsicólogos é o estudo do comportamento ou mudanças cognitivas que acompanham lesões em partes específicas do cérebro. Estudos experimentais com indivíduos normais também são comuns.
Estrutura e funcionamento do sistema nervoso
Observando a estrutura do sistema nervoso, percebemos que eles têm partes situadas dentro do cérebro e da coluna vertebral e outras distribuídas por todo corpo. As primeiras recebem o nome coletivo de sistema nervoso central (SNC), e as últimas de sistema nervoso periférico (SNP). É no sistema nervoso central que está a grande maioria das células nervosas, seus prolongamentos e os contatos que fazem entre si. No sistema nervoso periférico estão relativamente poucas células, mas um grande número de prolongamentos chamados fibras nervosas, agrupados em filetes alongados chamados nervos.
Os nervos (conjunto de neurônios) podem ser divididos em nervos que levam informação para o SNC e nervos que levam informação do SNC. Os primeiros são chamados fibras aferentes e os últimos de fibras eferentes. As fibras aferentes enviam sinais dos receptores (células que respondem ao estímulo sensorial nos olhos, ouvidos, pele, nariz, músculos, articulações) para o SNC. As fibras eferentes enviam sinais do SNC para os músculos e as glândulas.
Os neurônios são formados por três partes: a soma, os axônios e os dendritos. A parte central, corpo celular ou soma, contém o núcleo celular. Pode-se observar que a soma possui grande número de prolongamentos, ramificando-se múltiplas vezes como pequenos arbustos, são os dendritos. É através dos dendritos que cada neurônio recebe as informações provenientes dos demais neurônios a que se associa. O grande número de neurônios é útil a célula nervosa, pois permite multiplicar a área disponível para receber as informações aferentes. Saindo da soma também, existe um filamento mais longo e fino, ramificando-se pouco no trajeto e muito na sua porção terminal, é o axônio. Cada neurônio tem um único axônio, e é por ele que saem as informações eferentes dirigidas às outras células de um circuito neural.
A região de contato entre um terminal de fibra nervosa e um dendrito ou o corpo (mais raramente um outro axônio) de uma segunda célula, chama-se sinapse, e constitui uma região especializada fundamental para o processamento da informação pelo sistema nervoso. Na sinapse, nem sempre, os sinais elétricos passam sem alteração, podem ser bloqueados parcial ou completamente, ou então multiplicados. Logo, não ocorre apenas uma transmissão da informação, mas uma transformação durante a passagem.
A transmissão sináptica pode ser química ou elétrica. Na sinapse elétrica, as correntes iônicas passam diretamente pelas junções comunicantes (região de aproximação entre duas células) para as outras células. A transmissão é ultra-rápida, já que o sinal passa praticamente inalterado de uma célula para outra. Na sinapse química, a transmissão do sinal através da fenda sináptica (região de aproximação entre duas células, bem maior que as junções comunicantes) é feita através de neurotransmissores. A sinapse química pode ser exitatória, quando ocorre um aumento no estímulo recebido pelo neurônio pós-sináptico, ou inibitória, quando ocorre uma diminuição do estímulo no neurônio pós-sináptico. São essas transformações ocorridas durante a sinapse que garantem ao sistema nervoso a sua enorme diversidade e capacidade de processamento de informação
Uma das melhores maneiras de perceber a influência dos neurotransmissores na cognição é observando a quantidade de drogas cujo efeito provêm da modificação da atividade dos neurotransmissores, como a nicotina.
Plasticidade
Plasticidade é a capacidade do sistema nervoso alterar o funcionamento do sistema motor e perceptivo baseado em mudanças no ambiente.
Estudos comprovam a hipótese sobre o desenvolvimento neural e a aprendizagem na qual funções particulares de processamento de informação são controladas por grupos especiais de neurônios, mas quando uma dessas funções fica inutilizada, os neurônios associados a ela passam a controlar outra função. Por exemplo, se os neurônios que normalmente recebiam estímulos do olho esquerdo pararem de receber esse estímulo, eles se tornariam responsáveis pelos estímulos do olho direito. O inverso também é verdadeiro, quando as funções neurais são limitadas, os neurônios podem passar a controlar novas funções.
No entanto, nem sempre esse processo ocorre. A plasticidade é mais comum em crianças.
Memória de curto e longo prazo
Um dos conceitos mais importantes dessa área é a distinção entre memória de curto e longo prazo. Uma razão para acreditar nessa distinção é que, algumas vezes depois de um severo golpe na cabeça, uma pessoa pode ser incapaz de lembrar eventos que aconteceram antes do golpe (amnésia retrógrada), mas continuaria lembrando dos eventos que ocorreram bem antes. A fragilidade das memórias recentes sugeri que elas estavam num estado fisiológico diferente das memórias mais antigas. Uma outra razão para essa distinção é que nós somos capazes de lembrar um pequeno número de itens que nós acabamos de guardar na memória, mas podemos lembrar uma grande quantidade de informação de um passado distante. Esses fatos sugerem que a memória de curto prazo e a memória de longo prazo podem ter propriedades físicas distintas.
Memória de Curto Prazo (MCP): Capaz de armazenar informações por períodos de tempo um pouco mais longos, mas também de capacidade relativamente limitada.
Memória de Longo Prazo (MLP): Capaz de estocar informações durante períodos de tempo muito longos, talvez até indefinidamente.
Linguagem e outras funções de alto nível
A área de Broca e área de Wernicke
Em 1861,o neurologista francês Paul Broca identificou um paciente que era quase totalmente incapaz de falar e tinha uma lesão nos lobos frontais, o que gerou questionamentos sobre a existência de um centro da linguagem no cérebro. Mais tarde, descobriu casos nos quais a linguagem havia se comprometido devido a lesões no lobo frontal do hemisfério esquerdo. A recorrência dos casos levou Broca a propor, em 1864, que a expressão da linguagem é controlada por apenas um hemisfério, quase sempre o esquerdo. Esta visão confere com resultados do procedimento de Wada, no qual um hemisfério cerebral é anestesiado. Na maioria dos casos, a anestesia do hemisfério esquerdo, mas não a do direito, bloqueia a fala. A área do lobo frontal esquerdo dominante que Broca identificou como sendo crítico para a articulação da fala veio a ser conhecida como área de Broca.(BEAR, 2002)
Em 1874, o neurologista Karl Wernicke identificou que lesões na superfície superior do lobo temporal, entre o córtex auditivo e o giro angular, também interrompiam a fala normal. Essa região é atualmente denominada área de Wernicke. Tendo estabelecido que há duas áreas de linguagem no hemisfério esquerdo, Wernicke e outros começaram a mapear as áreas de processamento da linguagem no cérebro e levantaram hipóteses acerca de interconexões entre córtex auditivo, a área de Wernicke, a área de Broca e os músculos requeridos para a fala.
"O modelo neurolingüístico de Wernicke considerava que a área de Broca conteria os programas motores de fala, ou seja, as memórias do movimentos necessários para expressar os fonemas, compô-los em palavras e estas em frases. A área de Wernicke, por outro lado, conteria as memórias dos sons que compõem as palavras, possibilitando a compreensão." (LENT, 2002, p. 637) Assim, se essas duas áreas fossem conectadas, o indivíduo poderia associar a compreensão das palavras ouvidas com a sua própria fala.
Atualmente, o modelo de Wernicke teve que ser corrigido quando se observou que pacientes com lesões bem restritas à porção posterior do giro temporal superior (a área de Wernicke) apresentavam na verdade uma surdez lingüística e não uma verdadeira afasia de compreensão. A área de Wernicke seria, então, responsável pela identificação das palavras e não da compreensão do seu significado.
Distúrbios da fala e da compreensão
Damos o nome de afasia a alguns dos distúrbios da linguagem falada causados por acidentes vasculares cerebrais na sua fase aguda. Entretanto, nem todos os distúrbios da linguagem podem ser chamados de afasia. São chamados de afasia apenas aqueles que atingem regiões realmente responsáveis pelo processamento da linguagem e não distúrbios do sistema motor, do sistema atencional, e outros que seriam apenas coadjuvantes do processo. Ao contrário de um doente que não consegue falar devido a paralisia de um nervo facial, os portadores de afasia podem apresentar problemas de linguagem sem ter qualquer problema no funcionamento muscular facial.
Segundo Lent (2002), as afasias são classificadas em afasia de expressão, de compreensão e de condução, de acordo com os sintomas do paciente e com a região cerebral atingida. 
A afasia de Broca é também chamada de afasia motora ou não-fluente, já que as pessoas têm dificuldade em falar mesmo que possam entender a linguagem ouvida ou lida. Pessoas com esse tipo de afasia têm dificuldade em dizer qualquer coisa, fazendo pausas para procurar a palavra certa (anomia). A marca típica da afasia de Broca é um estilo telegráfico de fala, no qual se empregam, principalmente, palavras de conteúdo (substantivos, verbos, adjetivos), além da incapacidade de construir frases gramaticalmente corretas (agramatismo). É provocada por lesões sobre a região lateral inferior do lobo frontal esquerdo. 
A afasia de compreensão ou afasia de Wernicke atinge uma região cortical posterior em torno da ponta do sulco lateral de Sylvius do lado esquerdo. Os pacientes não conseguem compreender o que lhes é dito. Emitem respostas verbais sem sentidos e também não conseguem demonstrar compreensão através de gestos. Apesar de possuir uma fala fluente, ela também não tem sentido pois não compreendem o que eles mesmos dizem. Enquanto na afasia de Broca, a fala é perturbada, mas a compreensão está intacta, na afasia de Wernicke, a fala é fluente, mas a compreensão é pobre.
A afasia de condução é provocada por lesão do feixe arqueado, feixes que conectam a área de Broca com a área de Wernicke. Os pacientes seriam capazes de falar espontaneamente, embora cometessem erros de repetição e de resposta a comandos verbais.
Outros distúrbios
Afasia é apenas uma das desordens que resulta de lesões do cérebro. Neurologistas catalogaram um grande número de desordens. Abaixo temos uma pequena lista de algumas delas:
Alexia: inabilidade adquirida de compreender a linguagem escrita.
Agrafia: inabilidade adquirida de produzir linguagem escrita apesar da presença da linguagem oral, da leitura e de controle de movimentos normal
Apraxia: inabilidade de ter movimentos propositais apesar da compreensão normal das instruções, da força, do reflexo e da coordenação normais.
Agnosia visual: perda da habilidade de reconhecer ou identificar a presença de objetos, apesar nas funções visuais estarem intactas. Uma forma específica da agnosia visual foi registrada como propagnosia, inabilidade de reconhecer faces.
Síndrome da negligência: a tendência a ignorar coisas numa região particular do espaço ignorando o módulo sensorial responsável pelos estímulos provenientes daquela região. Pacientes com uma forma dessa síndrome chamada síndrome da negligência unilateral ignoram as informações provenientes do lado esquerdo ou direito do corpo e podem até esquecer de barbear essa parte do rosto ou de vestir esse lado do corpo.
A especialização dos hemisférios
Apesar do nosso cérebro ser divido em dois hemisférios não existe relação de dominância entre eles, pelo contrário, eles trabalham em conjunto, utilizando-se dos milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras cerebrais e se encarregam de pô-los em constante interação. O conceito de especialização hemisférica se confunde com o de lateralidade (algumas funções são representadas em apenas um dos lados, outras no dois) e de assimetria (um hemisfério não é igual ao outro).
Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95% dos seres humanos, mais isso não quer dizer que o direito não trabalhe, ao contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances afetivas essenciais para a comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é também responsável pela realização mental de cálculos matemáticos, pelo comando da escrita e pela compreensão dela através da leitura. Já o hemisfério direito é melhor na percepção de sons musicais e no reconhecimento de faces, especialmente quando se trata de aspectos gerais. O hemisfério esquerdo participa também do reconhecimento de faces, mas sua especialidade é descobrir precisamente quem é o dono de cada face. Da mesma forma, o hemisfério direito é especialmente capaz de identificar categorias gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que detecta as categorias específicas. O hemisfério direito é melhor na detecção de relações espaciais, particularmente as relações métricas, quantificáveis, aquelas que são úteis para o nosso deslocamento no mundo. O hemisfério esquerdo não deixa de participar dessa função, mas é melhor no reconhecimento de relações espaciais categoriais qualitativas. Finalmente, o hemisfério esquerdo produz movimentos mais precisos da mão e da perna direitas do que o hemisfério direito é capaz de fazer com a mão e a perna esquerda (na maioria das pessoas). Veja a Figura 2.2:
Figura 2.2: Especialização dos hemisférios. (LENT, 2002)
Implicações nas Ciências Cognitivas
Existem redundâncias consideráveis no sistema nervoso. A existência de processamento paralelo é amplamente aceita na neurociência e acredita-se que ele seja necessário devido a rapidez e complexidade do processamento da informação no cérebro das criaturas vivas. O poder da computação paralela pode ser observado nos modernos computadores seriais que demoram muito mais que o cérebro humano para processar informações visuais. Nos últimos anos, reconheceu-se que computadores com processamento paralelo são necessários para acelerar o processamento de imagens, aproximando-o da velocidade do cérebro humano.
Esse é um dos caminhos pelo qual a neurociência pode ajudar as ciências cognitivas. A psicologia cognitiva tem se esforçado para modelar as atividades intelectuais com elementos que interajam numa maneira neurologicamente plausível. Esses modelos estão ajudando a mostrar como a cognição pode ser estruturada através dos princípios básicos de operação da mente.

Para saber mais:
Livros e publicações:
BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.
BRITO, Denise Brandão de Oliveira e.Retardo de Aquisição de Linguagem. Disponível em: <http://www.denisebrandao.hpg.ig.com.br/index.html>. Acessado em 18 ago. 2002.
GARDNER, Howard. A nova ciência da mente. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996.
LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais. Atheneu: São Paulo, 2002.
MYRES, David G. Introdução à psicologia geral. 5. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999.
NOGUEIRA, Suzana et all. A criança com atraso da linguagem. Disponível em: <http://www.chc.min-saude.pt/hp/revista/042000/artigo.pdf>. Acessado em 18 ago. 2002.
STILLINGS, Neil A. Cognitive Science: an introduction. Cambridge: Massachusetts Institute of Technology, 1989.
STENBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000.
Links:
Página com o material do curso de "Memória: representação do conhecimento, uma abordagem cognitiva" oferecido pela professora Adriana Benevides do Núcleo de Computacão Eletrônica da UFRJ.
Página da revista "Mente e Cérebro" com artigos relacionados à neurociência.
Traduções em geral e pesquisa em neurociência, linguagem, cognição e disciplinas correlatas.
Página do psicólogo Robert Maxwell Young com artigos publicados desde 1960, além de livros na íntegra.
"Classics in the History of Psychology", página em ingl6es com publicações de vários estudiosos, como Skinner, Broca, Koffka e Lashey.
"How People Learn: Brain, Mind, Experience, and School". Livro online de John D. Bransford, Ann L. Brown e Rodney R. Cocking (editores).
Página em inglês chamada "Classroom compass", com idéias, atividades e recursos para professores interessados em melhorar suas aulas de matemática e ciências. Incluindo o artigo "Research on brain", sobre com estudos da mente podem ajudar no aprendizado.